Crítica de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Por Adso Sabádo /

Desde o fracasso de público e crítica sofrido pelo filme de 2015, qualquer obra relacionada ao Quarteto Fantástico parecia ter sido brutalmente assassinada de qualquer expectativa de que um novo filme retratando o grupo precursor de toda uma era de heróis nos quadrinhos pudesse ter novamente um filme bom, ainda mais com o desastre que foi a participação de Reed Richards no controverso Doutor Estranho 2 – O Multiverso da Loucura, que pareceu demonstrar o quanto é difícil trabalhar com um personagem tão inteligente que exige que os roteiristas possuam, também, tal inteligência. Por isso foi dúbia a recepção de um novo filme do Quarteto Fantástico, de um lado havia o retrospecto pouco favorável das adaptações medíocres, de outro estava a curiosidade acerca de como os primeiros heróis de Stan Lee seriam retratados nesse novo momento dos filmes de heróis. Eu, particularmente, acredito que o filme seria muito mais bem-vindo na época em que filmes de heróis estavam em alta, doravante, foi quase impossível não se ver empolgado com a estética que o filme prometia entregar. 

Foi uma escolha boa, apesar de poder parecer demasiadamente expositiva, a de nos poupar da origem dos heróis, o filme começa com o Quarteto Fantástico e tudo ao redor dele já estabelecido, seus poderes, as formas que eles lidam com tais habilidades, a forma que se relacionam entre si e também com a mídia e a população, tudo isso nos é mostrado de forma inteligente em uma montagem que explica a situação ao mesmo tempo que empolga os espectadores em uma montagem frenética e extasiante. Mesmo que possa ficar um pouco confuso para quem chega de paraquedas no filme sem entender muito bem quem são esses personagens, foi uma forma boa de partir de um ponto da história que o filme quer contar, sem se preocupar em mostrar, mais uma vez, a origem dos heróis. 

Porém, a montagem acelerada que contribui na apresentação dos heróis, se torna um problema no decorrer do filme. A impressão que dá é que há um esforço constante para que o filme tenha a menor duração possível, foi até de se estranhar o filme não ter sequer 120 minutos. Os acontecimentos são muito corridos e mal há tempo de digerir um acontecimento importante que outro já está sendo mostrado. Seria muito mais engrandecedor ao filme que as coisas fossem contadas com um pouquinho mais de calma, sem tanta pressa e sem um ritmo tão acelerado em momentos que não pediam esse ritmo. 

É quase um milagre, e muito por causa do carisma dos atores e dos personagens, que esse ritmo insano não tenha atrapalhado a relação dos personagens que compõem o Quarteto Fantástico. A relação deles é, sem qualquer sombra de dúvidas, a melhor coisa desse filme, o espectador sente-se realmente parte daquela família, e é perceptível o carinho e o afeto que os personagens sentem um pelo outro, os diálogos descontraídos estabelecem a posição de cada um dentro do grupo, e a dinâmica e a química entre qualquer um deles para com o outro é completamente catártica, o filme faz o espectador saber exatamente a forma como tal personagem enxerga o outro membro do grupo. Os personagens e a relação um com os outros é o que carrega o filme. 

Não há o que reclamar de Pedro Pascal em seu papel de Reed Richards, diferentemente da participação do personagem em Multiverso da Loucura, onde não se pode ver em nenhum momento a tal inteligência espetacular do cientista. Em Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, o Homem Elástico finalmente pareceu ser realmente inteligente, mesmo que o filme force muito a barra em alguns momentos ao mostrar um plano completamente mirabolante sem nos apresentar qualquer explicação para como aquelas máquinas funcionam, apenas esperando que o espectador acredite naquilo, quase como que transformando ciência em magia. Doravante, mesmo que tais informações melhorassem o filme, a não existência delas não atrapalha a imersão, até porque muitas vezes outros planos de Reed Richards são explicados e a exposição de suas ideias é bastante satisfatória.

Vanessa Kirby também entrega uma atuação muito segura de si ao interpretar Sue Storm, uma personagem bem durona quando precisa ser, mas também muito carinhosa quando o momento pede.  Joseph Quinn faz uma atuação bem competente, mesmo que não com tanto brilho quanto Pedro Pascal e Vanessa Kirby, até porque o personagem Johnny Storm não pedia tanto peso na atuação, sendo uma pessoa mais leve e tranquila, e o ator consegue transmitir o carisma do personagem com maestria. E, mesmo que atolado pelo CGI, Ebon Moss-Bachrach entrega sua atuação impecavelmente através de seu trabalho de voz, o Coisa é o personagem mais interessante do Quarteto Fantástico por toda a carga dramática que ele carrega ao ter se transformando em um monstro e perdido toda sua vida por isso, e o ator segurou isso muito bem. 

Porém, é em seus personagens e na qualidade da inter-relação entre eles que as qualidades do filme acabam. Mesmo que muitas coisas não sejam ruins, pouco engrandecem o filme, dando a impressão de não cheirar e nem feder. Entretanto, se há algo no filme que realmente fede é o CGI, que é horroroso e desagradável, é quase um desrespeito a toda evolução tecnológica que o Cinema alcançou depois de tantos anos que efeitos visuais tão ruins sejam aceitos em obras tão caras e grandiosas, os efeitos do Galactus são horríveis de se ver, tenebrosos e horripilantes, o CGI asqueroso do Galactus assusta mais do que o fato do personagem poder literalmente destruir o planeta. Os efeitos da Surfista Prateada estão no limite do aceitável, mas é perceptível a bonecona dura que ela é, e quando ela precisa demonstrar feições no rosto é que o desastre se torna iminente. É assustador o caminho que o CGI está tomando nos filmes de super-heróis, mas nada supera, em termos de estranheza, o CGI do bebê dentro da barriga de Sue Storm, palavras me fogem apenas de lembrar tal cena tamanho impacto que ela causou. 

E não apenas no visual estão as faltas de qualidade do filme (Veja que digo falta de qualidade e não defeito, pois esses elementos não necessariamente machucam a obra), a resolução dos problemas são todos muito preguiçosos e fáceis, não parece haver qualquer dificuldade ou esforço dos personagens para a resolver os desafios que deveriam ser gigantescos. Há, no filme, uma única cena em que a vilã Surfista Prateada parece realmente um desafio para os heróis, no momento da perseguição após a fuga da nave de Galactus que, essa sim, foi uma cena de ação espetacular, o triste é que tenha sido a única realmente boa pois, fora essa cena, todos os problemas impostos pelo roteiro nunca parecem ter um verdadeiro peso de que poderá ter consequências sérias aos personagens. O filme é muito previsível, estava óbvio que a Surfista Prateada se sacrificaria no final para ajudar o Quarteto a derrotar Galactus, vilão esse que foi completamente enfraquecido pelo roteiro, os heróis terem derrotado ele de forma tão rápida apenas exemplificam o que eu já disse sobre os problemas serem resolvidos de forma muito fácil. Mesmo que tenha sido empolgante ver o esforço conjunto dos personagens para derrotar o colosso, em nenhum momento se pensa que eles, o bebê ou o mundo estão correndo verdadeiro risco. Até mesmo quando Sue Storm supostamente morre, a cena é uma afronta ao espectador, é a repetição de uma cena que já vimos incontáveis vezes, é um clichê que chega quase a ser vergonhoso.

Dito isto, a conclusão que se forma é a de que Quarteto Fantástico é um filme voltado para crianças, é uma experiência completamente divertida para uma criança que goste do universo de super-heróis, não se pode esperar dele uma trama realmente complexa com problemas desafiadores e que precisem que o personagem evolua como pessoa para poder encontrar a resolução em uma obra infantil da forma como tal filme se enxerga. E não é um problema que o filme se volte para o público infantil. Ao meu ver, é, na verdade, uma qualidade do ponto de vista comercial: é o público juvenil que move o mercado de filmes de super-heróis e faz todo o sentido que a indústria se volte para agradar a eles, até por isso o ritmo acelerado faz sentido dentro do que o filme propõe ser. 

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é um filme que não deixará de divertir quem o assiste sem grandes expectativas de se deparar com uma obra complexa e com carga dramática muito grande. O único erro é que ele se leva, às vezes, muito a sério, e talvez se o filme fosse tão descontraído quanto Superman (2025), as faltas de qualidade se tornariam qualidades e engrandeceriam o filme da mesma forma que os elementos também toscos de Superman engrandecem o filme no qual estão presentes.


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